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toscos
O hipopotamozinho, filho de Firula,
a hipopótama, adorava ir para a escola. Para ele,
ir para a aula era o momento mais legal do dia. Tanto que ele odiava os finais
de semana.
As aulas
eram ministradas no pântano ao lado da lagoa principal da floresta. Johnny –
como era chamada o hipopotamozinho – morava na lagoa, então ir para a aula nada
mais significava que ir até uma margem predeterminada do lago e ficar ali por
algumas horas, junto a outros animaizinhos, recebendo ensinamentos da sábia
coruja. Na floresta não tinha essas frescuras de séries e classes. Todos os
filhotes estudavam juntos. Às vezes a coruja convidava outros animaizinhos para
dar aulas especiais, mas na maior parte do tempo predominava a visão de mundo
da coruja, acumulada em anos e anos de vôos e observações. Era muito esperta
essa coruja.
Embora
já fizesse mais de ano que Johnny começou a freqüentar a escola, desde o começo
ele sempre usava o mesmo caderno. Johnny se apegou tanto ao caderno – cuja capa
trazia a imagem de um golfinho – que ele tomava cuidado para escrever com letra
miudinha, e aproveitava todos os espaços de cada folha. Com isso, esperava
poder fazer seu caderno durar durante todo o período escolar. Além do mais,
conseguir um caderno no meio da floresta era tarefa complicada. Esse caderninho
em específico fora achado no lago, pelo próprio Johnny, logo após a mochila de
um humaninho ter aparecido boiando ali pelo lago. Johnny ignora o que tenha
ocorrido com o menino. Mas não resistiu e tomou o caderno para si. Era lindo, e
o golfinho da capa não parava de sorrir.
Um dia,
durante uma aula particularmente interessante, sobre territórios distantes
sobre os quais Johnny nunca tinha ouvido falar – mas a coruja contava ter
estado por lá – o hipopotamozinho procurava tomar nota de tudo o que era dito.
Com letras pequenas, e tudo esmagadinho, claro. A aula era sobre a Patagônia.
Porém,
de repente, ao virar a página, Johnny se deparou com algo que nunca tinha
visto. Ao invés das pautas, como havia nas demais páginas, havia uma página
lisa, totalmente em branco. Ao tentar escrever, o que ele escrevia aparecia na
página, mas de um jeito bizarro. Aí ele notou um quadradinho lá em cima, como
se fosse uma caixa de texto. Instintivamente, escreveu “Patagônia” ali em cima.
Em instantes – e para seu espanto – várias fotos e imagens começaram a aparecer
abaixo do quadradinho, enchendo a página com coisas que por enquanto ele só
podia imaginar a partir do relato da coruja. Na base da página, ele viu um
mapa. Ao colocar o lápis sobre o mapa, ele se expandiu e tomou conta da tela. O
mapa mostrava a Patagônia. Com um pouco de esforço, ele pôde estimar a
distância que estava da Patagônia a partir do mapa. Não demorou muito para que
Johnny esquecesse da aula e passasse a prestar atenção apenas em seu caderno.
Ele digitou o nome de sua floresta na caixa de textos, e viu fotos de sua
floresta. Ao abrir uma foto, entretanto, viu que esta era acompanhada por
textos. Ao ler um dos textos ficou profundamente triste ao saber que o local
era conhecido pela “caça a perdizes” – ele possuía vários colegas
perdizezinhos, e sentiu pena por eles. Triste, Johnny voltou para a Patagônia,
achou uma foto bonita e passou o lápis em cima dela. Diferentemente do que sua
professora coruja estava contando, na Patagônia também caçavam e matavam
animaizinhos. Ele viu a foto de um animal ferido, e lágrimas escorreram de seus
olhos. Johnny estava descobrindo a realidade do mundo, mesmo sem sair de seu
lago. Seu caderno – ou aquela página especial de seu velho caderno desgastado e
molhado – permitia-lhe ter acesso a conhecimentos muito além do que poderia
ficar sabendo a partir do relato dos que estavam a sua volta. Seu caderno, tal
qual a tecnologia 3G, o permitiu conectar a partir de um lago, no meio de uma
floresta, com o restante do mundo.
criado por Gabriela Zago
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